quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Do porque viver

    DEPOIS DE TUDO (Juntos. Ou separados.)
    Tirando os problemas todos até que foi bom, foi ruim, foi médio, engraçado, meio triste, uma desgraça!, foi impossível, tá certo, foi chatíssimo, foi péssimo inclusive, mas também foi muito divertido, eu diria até que foi ótimo, excelente mesmo, foi perfeito, não foi?
    E além de tudo ainda teve cada beijo!

Adriana Falção em O doido da garrafa

segunda-feira, 2 de julho de 2012

Do porque amo a chuva

Amor Pacífico e Fecundo

 Não quero amor
que não saiba dominar-se,
desse, como vinho espumante,
que parte o copo e se entorna,
perdido num instante.

Dá-me esse amor fresco e puro
como a tua chuva,
que abençoa a terra sequiosa,
e enche as talhas do lar.
Amor que penetre até ao centro da vida,
e dali se estenda como seiva invisível,
até aos ramos da árvore da existência,
e faça nascer
as flores e os frutos.
Dá-me esse amor
que conserva tranquilo o coração,
na plenitude da paz!

Rabindranath Tagore, in "O Coração da Primavera"
Tradução de Manuel Simões

segunda-feira, 26 de dezembro de 2011

Do porque das adversidades

"Assim é: as mulheres só tiveram informações falsas sobre o amor. Muitas informações diferentes, todas falsas. E experiências inexatas. No entanto, sempre confiantes nas informações, não nas experiências. Por isso tem tantas coisas falsas na cabeça.
- Eu gostaria, sabe, nós, as moças – diz. – Os homens: coisas lidas, coisas ditas entre nós no ouvido desde meninas. A gente aprende que aquilo é mais importante que tudo, a finalidade de tudo. Depois, sabe, percebo que nunca se alcança aquilo, aquilo de verdade. Não é mais importante que tudo. Eu gostaria que nada disso existisse, que agente pudesse não pensar nisso. Mas a gente sempre espera. Talvez seja preciso ser mãe para alcançar o verdadeiro significado de tudo. Ou prostituta.
É isso: maravilhoso. Todos nós temos uma explicação secreta. Basta descobrir a explicação secreta e ela não é mais uma estranha. Ficamos enroscados bem juntinhos um do outro, como cachorros grandes ou divindades fluviais.
- Sabe - disse Mariamirellla - , talvez eu tenha medo de você. Mas não sei onde me refugiar. O horizonte é deserto, só tem você. Você é o urso e a gruta. Por isso estou agora enroscada em seus braços, para que você me proteja do medo de você.
Só que para as mulheres é mais fácil. A vida corre dentro delas, grandes rios dentro delas, as continuadoras, há a natureza segura e misteriosa dentro delas. No passado, havia o grande matriarcado, a história dos povos fluía como a das plantas. Depois, o orgulho dos zangões: uma revolta, eis a civilização."

Ìtalo Calvino - Um general na biblioteca (página 45)

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Do porque ser


Capitalismo para iniciantes
Carlos Eduardo Novaes
Vilmar Rodrigues

quarta-feira, 21 de julho de 2010

do porque identifico

- Esta aqui também é boa - disse. - Veja só esta frase: "O homem devia orgulhar-se da dor; toda dor é uma manifestação de nossa elevada estirpe." Magnífico! Oitenta anos antes de Nietzche! Mas não é esta a passagem que eu pensava mostrar-lhe... Espere, aqui está. ouça: "A maioria dos homens não quer nadar antes que o possa fazer." Não é engraçado? Naturalmente, não querem nadar. Nasceram para andar na terra e não para a água. E, naturalmente, não querem pensar: foram criados para viver e não para pensar! Isto mesmo! E quem pensa, quem faz do pensamento sua principal atividade, pode chegar muito longe com isso, mas, sem dúvida estará confundindo a terra com a água e um dia morrerá afogado.

Hermann Hesse - O lobo da estepe

terça-feira, 15 de junho de 2010

Do porque dos sentires

"Não o conseguirá quem não o sente,
A quem não fluir do peito sem requintes,
P'ra, com deleite omnipotente,
Conquistar todos os ouvintes
Juntae, fervei aqui e ali,
Guisados com o manjar vizinho,
E das escassas cinzas expelli
O vosso flammejar mesquinho.
Creanças, monos, vos admirarão
Mas, nunca falareis a um outro coração,
Se o próprio vos não inspirar."

Fausto - Goethe

sexta-feira, 26 de março de 2010

Dos sempre... porquês

"Do que fugir. Como se houvesse fuga. Só no sentido musical, talvez, como as fugas de Bach, em que uma voz perseguia a outra, e os caminhos pareciam ganhar autonomia, mas teriam de chegar a um acorde final. Haruki sabia tocar fugas de Bach ao piano, embora fizesse anos que já não chegava perto do instrumento. Será que ainda era capaz? Disseminar melodias que se despistavam e procuravam, como amantes em jogos eróticos? E o que Bach pensaria disso, jogos eróticos - ele, um homem de deus? Era possível fazer essa divisão entre as coisas do corpo e as do espírito, ou ambas estavam (eroticamente) imbricadas, como a linha melódica de uma fuga? Mas o espírito, Haruki pensava, morava nas células nervosas, e o corpo era substância volátil, como álcool - apenas demorava um pouco mais para se volatilizar."

"Recair significa cair de novo. No poço sem fundo da felicidade, no abismo renovável da dor e do não. A vida: atençao ao prazo de validade. A vida: dosagem recomendada, vide bula. Testada dermatologicamente, testada oftamologicamente em sessões de tortura nos animais de laboratório. Tantas capsulas por dia, de acordo com o peso e com a idade. Em caso de superdosagem, recorrer à lavagem estomacal. Aconselhável a consulta ao seu médico antes de usar."

"A dor. Verdade indesejável num mundo de analgésicos. Nunca, a dor. Jamais senti-la quieta e quente no meio do corpo, jamais deixar que estremeça nas mãos ou sue frio na testa, jamais permitir que a dor doa.
Esse é o grande engodo. Minha dor é minha: marca na pele, feito a vermelhidão da queimadura. Existe uma visita na sala de estar. A dor, senhorinha sentada no canto do sofá.
Isso, talvez, era o que mais atrapalhava a relaçao com o mundo: o preconceito generalizado contra a dor. E haja comprimido de todas as cores e formatos, garrafas de alcool e outras drogas lícitas, drogas ilícitas, entorpecentes de tantas naturezas. Haja poltronas diante da televisão nas noites de domingo, enquanto um espetáculo de insanidades desliza pela tela. Haja disfarces. No fundo, todos eles com o mesmo disfarçado objetivo: que a dor não doa. Que a dor se cale, se encolha, se submeta, se amordace, se domestique."

Adriana Lisboa - Rakushisha